Chamo-te
tal como outrora:
as raízes das árvores
estão fazendo o inverno numa jaula
debaixo do solo
a que nasceu com um vestido branco de sombra
está sonhando ainda num cavalo de névoa
e o vento chegou com o seu leque de água
no lugar antigo do orvalho
como se estivesse sufocando
para dentro de uma pedra
há um colar de penumbra
enrolado ao pescoço
com frases que rangem no quadrado do quarto
no fundo de um poço
alguém que não conheço e vem do lugar da noite
com escorpiões nos braços
desce as escadas no mistério de uma abelha
no espaço do tronco
vejo crescer a lua
para dentro do cárcere de agosto
com um chapéu de abandono de folhas secas
e parcas
a minha sombra cai dentro da sombra
sem que de si possa lembrar-se
maria azenha