A partir do momento em que percebi que tudo morre e acaba,
e que mesmo durando muito, terá fim,
deixei de ter sede em criar.
Escrevo estas palavras na perfeita noção de que serão de existência breve.
Morre o homem, ceifa a vida,
Morre a ideologia, as ideias, as aspirações, os projectos inacabados, as vontades e os desejos.
Morre em silêncio,
às escondidas de um mundo indiferente,
que dói mais por ser indiferente perante a insignificância, que tanto significa, para quem morre.
Verdades absolutas,
sabedorias por partilhar,
palavras por dizer,
mensagens por entregar.
Tudo morre com o morto.
As palavras que aqui deixo, neste texto,
são incompletas,
e assim incompletas vão permanecer.
Potencialidades infinitas,
mundos criados,
universos sonhados,
detalhes e minúcias ainda por ver a luz do dia,
O que poderia vir a ser,
emudecido de um só trago.
O que mais dói é o que não foi.
Saio,
Estas ruas e calçadas deixarão de sentir o peso dos meus pés,
Continuarão sem mim, sem sentir sequer o meu abandono,
Continuarão sem mim, indiferentes, sem nunca sequer me ter sentido.
E eu, deixarei de sentir,
Perco a minha existência,
Cesso de estar,
A banalidade do ciclo vicioso do ser.
Enquanto o universo pisca os olhos.
Bruno Albino