InVersos: Odete Ferreira – (Des)abrigo


Por aqui e além
no espaço contemplativo
onde se perde o olhar;
naqueles espaços de acasos
que (des)marcam linhas
onde se encontra o sentido;
nestes momentos encostados
a interiores da casa
onde se procura abrigo;
há um desabrigo
nu e despejado.
É o vento!
Folhas caídas
a provocar o tempo.
Um tempo de frios ninhos
como olhares desocupados.

Odete Ferreira

InVersos: Manuel Pintor – Por ti, amor


por ti, amor
me esqueço das horas
na memória dos dias
janelas sem noite
de uma redoma livre
em ti
incendeio o tempo
na chama que me sobrevive

por ti, amor
a esperança nasce derradeira
na tua pele
mais que sobre a minha

por ti, amor
me arvoro das límpidas raízes
na água das fontes
no húmus dos ventos
sulco meus caminhos
em ti
o monte onde grito
e ouço todo o eco de mim

por ti, amor
eu rio meu choro
atravesso medos nas horas que rumo
a mar maior que toda a dor do mundo

Manuel Pintor

InVersos: Jaime Portela – O verde e moço desatino dos lunáticos


Vivemos por entre furacões
a desgrenharmos o cabelo nas tormentas.
Ficamos bêbados de licores proibidos
e inchados de venenos boquiabertos nos dentes.
Usemos a varinha de condão e,
com artes de magia afortunada,
suspendamos os prantos da boca
e o rezar miserável por chuva no deserto.
Deixemos que a força abatida
seja a mola dos sonhos,
pois há fios coloridos nas nossas mãos a brilhar.
Sonhar é bom, porque nos incendeia
com o verde e moço desatino dos lunáticos.

FELIZ ANO NOVO

Jaime Portela