InVersos: Eugénio de Andrade – Poema para Sophia


Não sei porque floriram no meu rosto
os olhos e os versos que há em ti.
Floriram por acaso, ao sol de agosto,
sem mesmo haver agosto ou sol em mim.
Não sei porque floriram: se o orvalho os queima…
(Ponho as mãos nos olhos para os proteger!)
Tão estranho!: florirem no meu rosto
olhos e versos que não posso ver.

Eugénio de Andrade

Inversos: É urgente o amor – Eugénio de Andrade

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

Eugénio de Andrade