InVersos: Helena Chiarello – [in]construção


…e temos que juntar
tudo outra vez,
recolher espantos
e amontoar de um jeito sólido
todas aquelas coisas
que mesmo com tanto cuidado
se vão quebrando
a cada impacto.

Dizia-me [a minha vontade]
que seria fácil
e repetia-me
e queria mesmo que sim
porque parecia lógico acreditar
que nada se quebraria
[e essas certezas coladas
com sonho-sorriso-esperança
nem deveriam guardar tantas marcas]

…mas temos que juntar
tudo outra vez
[sonhos-certezas-encantos]
e mesmo com tanto cuidado,
só o desejo é intacto.

Helena Chiarello

InVersos: Teresa Gonçalves e Manuela Barroso em Dueto – Liberto o Pensamento

 (Convidado especial: Luís Gaspar)

Deixo  o  pensamento  voar
ele  precisa  de  voar
sem  ser  empurrado  pelo  vento
(cavalo  gigante  a  galopar  sem  rumo)
deixo-o  voar
sem  a  turbulência
das  insónias  salgadasdeixo-o  voar
com  a  liberdade  e  serenidade
do  silêncio
para  poder  estancar  as  águas
e  chegar  ao  cume  da  consciência
sem  conflitos
presentes  e passados

deixo-o  voar
corpo  abandonado
olhos  presos  ao  teto
não  há  longe
não  há  perto
há  o  espaço  cruzado
pela  luz  da  consciência
do  amor  ao  Universo.

Teresa  Gonçalves

Eu…

não me quereria prisioneira
das asas da imaginação que afoga
e perturba o meu voo
esta forma calma de estar
na quietude do meu mar

Não quereria
o ruminar de ideias
na bola de neve que gela o meu raciocínio
Não quereria que a mente perturbasse
o deambular interior no veludo do meu “Eu”
Não quereria perguntas constantes
desta mente que confunde,
me dispersa por veredas errantes
nas escadas do meu peito
em cogitações delirantes
controversas

Na amplidão do consciente
digo não à imaginação
na fertilidade de imagens que inundam o coração
na vertigem das miragens
entrego o meu saber ao Eu que eu sou
no perfume que se evola.

Quero a alegria do Agora
chave da libertação
desta mente que devora

Quero o pensamento
de mãos dadas com a consciência
na iluminação da minha quietude
e paciência

Quero o conhecimento da consciência
que me conduza às profundezas da alma
ao encontro do Ser
que eu Sou.

Aqui,
calarei a voz da mente, nada mais
me perturbará a beleza consciente
do Amor, Alegria e Paz.

É este o alimento
que a libertação me traz.

Manuela Barroso

InVersos: Amália Rodrigues – Horas de vida perdida


Horas de vida perdida
à procura de viver
Vai-se à procura da vida
Não a encontra quem quer

Quem sou eu para dizer
Quem sou eu para o saber
Nem sei se sou ou não sou
Ninguém pode conhecer
Isto de ser e não ser

Sem saber sei entender
Assim sei o que não sei
Sinto que sou e não sou
Entre o que sei e não sei
A minha vida gastei
Sem conseguir entender

Ai quem me dera encontrar
As rimas da poesia
Ai se eu soubesse rimar
Tantas coisas que eu dizia

Amália Rodrigues

InVersos: Maria Guinot – Silêncio e tanta gente

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro o amor em teu olhar
É uma pedra
Ou um grito
Que nasce em qualquer lugar

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal aquilo que sou
Sou um grito
Ou sou uma pedra
De um altar onde não estou

Às vezes sou também
O tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar

Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não
E troco a minha vida por um dia de ilusão
E troco a minha vida por um dia de ilusão

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro as palavras por dizer
É uma pedra
Ou um grito
De um amor por acontecer

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal p’ra onde vou
E esta pedra
E este grito
São a história d’aquilo que sou

Maria Guinot