InVersos: Bruno Albino – 19h40m


A partir do momento em que percebi que tudo morre e acaba,
e que mesmo durando muito, terá fim,
deixei de ter sede em criar.

Escrevo estas palavras na perfeita noção de que serão de existência breve.

Morre o homem, ceifa a vida,
Morre a ideologia, as ideias, as aspirações, os projectos inacabados, as vontades e os desejos.

Morre em silêncio,
às escondidas de um mundo indiferente,
que dói mais por ser indiferente perante a insignificância, que tanto significa, para quem morre.

Verdades absolutas,
sabedorias por partilhar,
palavras por dizer,
mensagens por entregar.
Tudo morre com o morto.

As palavras que aqui deixo, neste texto,
são incompletas,
e assim incompletas vão permanecer.

Potencialidades infinitas,
mundos criados,
universos sonhados,
detalhes e minúcias ainda por ver a luz do dia,

O que poderia vir a ser,
emudecido de um só trago.

O que mais dói é o que não foi.

Saio,

Estas ruas e calçadas deixarão de sentir o peso dos meus pés,
Continuarão sem mim, sem sentir sequer o meu abandono,
Continuarão sem mim, indiferentes, sem nunca sequer me ter sentido.

E eu, deixarei de sentir,
Perco a minha existência,
Cesso de estar,

A banalidade do ciclo vicioso do ser.

Enquanto o universo pisca os olhos.

Bruno Albino